Sabe quantos votos do prefeito Sarto o candidato Roberto Cláudio vai ganhar? Uns 650 mil? Mas, menino, uns 500 mil? Uns 300 mil? Com uma má gestão e a impopularidade de Sarto, Roberto Cláudio deverá ganhar uns 35 mil novos votos.
A parodia do texto ruim da publicidade da Prefeitura de Fortaleza, ao anunciar 100 novos leitos no Gonzaguinha do José Walter, prestes a entrar em colapso com a demanda do Gonzaguinha da Messejana, que, antes do fechamento sem um estudo de impacto, realizava mensalmente 300 partos e somava milhares de outros atendimentos, mostra a irrelevância do cargo de prefeito de Fortaleza no atual processo eleitoral, que pela primeira vez, desde a redemocratização no Brasil, o segundo cargo de Poder Executivo mais importante no Ceará será mero figurante em uma eleição ao Governo do Estado.
Por certo, o ex-prefeito de Fortaleza conquistará bem mais votos na Capital que o tamanho do atual gestor, mas por mérito de seus oito anos à frente da cidade, diante de ações no transporte público, mobilidade urbana, turismo, cultura, infraestrutura, educação e saúde.
O grande comprometimento de Roberto Cláudio na eleição de Sarto, que chegou inclusive a levar a campanha nas costas, quando o candidato estava acometido de covid-19, hoje depõe contra o ex-prefeito. Obras abortadas, como a requalificação da Lagoa da Messejana, mesmo com R$ 4 milhões assegurados na ordem de serviço deixada pelo então prefeito RC; obras abandonadas, a exemplo do saneamento e drenagem na periferia, como nos bairros Bom Jardim e Genibaú; e obras a passos de tartaruga, como a reforma da Praça Coração de Jesus, com orçamento inicial de R$ 8,3 milhões, mas agora ampliado para R$ 14 milhões; têm nesse momento reflexos negativos na campanha de Roberto Cláudio.
Sem o cabo eleitoral que deveria ditar os rumos da campanha em Fortaleza e Região Metropolitana, Roberto Cláudio (PDT) tem a sua estratégia comprometida, ao ponto de ficar refém da própria sorte.
Sem uma gestão eficiente, Sarto alimenta o sentimento de rejeição ao grupo liderado pelos Ferreira Gomes, ao mesmo tempo em que fortalece as candidaturas de Capitão Wagner (União Brasil) e Elmano (PT).
Sem o parâmetro positivo de Sarto, Roberto Cláudio quando critica Elmano fortalece o sentimento anti FG e leva votos de Capitão Wagner para o próprio Elmano, mas não o suficiente para abalar o bom percentual de intenção de votos do candidato do União Brasil, diante da desconfiança do eleitorado anti FG sobre uma possível “armação” da esquerda de tentativa de tirar a extrema direita do segundo turno. Claro que as críticas de RC contra Elmano também se traduzem em votos para o candidato do PDT, mas em quantidade menor em relação à que Elmano ganha de Wagner, que pela primeira vez terá uma real noção de seu tamanho político no Ceará, sem a totalidade do eleitorado anti FG.
A estratégia de ataque de Roberto Cláudio a Elmano teria resultado satisfatório se a eleição ao Governo do Ceará fosse em março ou abril de 2023, tempo suficiente para esvaziar Capitão Wagner do eleitorado anti FG.
Não surte o efeito desejado ataques de RC a Wagner, pois a mudança de voto do União Brasil para o PDT é insignificante.
Na melhor estratégia, Roberto Cláudio deveria alimentar o imaginário do eleitorado anti FG de complô da esquerda contra Wagner, como forma de conter a passagem do eleitorado anti FG de Capitão Wagner para Elmano. Mas RC não teria como conter os cabos eleitorais no Ceará do candidato do PT, a exemplos do ex-governador Camilo Santana; do prefeito de Sobral, Ivo Gomes, e do prefeito de Caucaia, Vitor Valim, esse último cumprindo para Elmano o papel que Sarto deveria desempenhar para o candidato do PDT na Região Metropolitana.
Com o vácuo deixado pelo prefeito de Fortaleza, o espaço foi ocupado pelo prefeito de Caucaia, que despertou na população da Capital o desejo pelo transporte público gratuito, capacitação profissional para 20 mil jovens, 45 mil tablets distribuídos para estudantes, um Cumbuco de orgulhar o caucaiense e uma redução significante nos índices de violência. A identificação entre as duas cidades, principalmente pelo fato de o trabalhador de Caucaia ocupar os postos de emprego no Centro de Fortaleza e do fortalezense muitas vezes ter mais proximidade com as praias do Icaraí e do Cumbuco do que a Praia do Futuro e do Caça e Pesca, faz com que as gestões sejam historicamente comparadas.
Tanto que Elmano já cita o modelo de transporte gratuito de Caucaia para a Região Metropolitana, enquanto Fortaleza estagnou na estrutura deixada pelo então prefeito Roberto Cláudio. Elmano sabe que Vitor Valim poderá lhe render bem mais que os 104,9 mil votos que Camilo Santana tirou em Caucaia no primeiro turno em 2018. Também sabe que Fortaleza nem de longe entregará a Roberto Cláudio os 742,8 mil votos somados pelo mesmo candidato no mesmo período eleitoral.
Luiz Cláudio Ferreira Barbosa é sociólogo e gerente-executivo da Consultoria LCFB
Nenhum comentário:
Postar um comentário