sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Gabriel Barbosa - O caminho das pedras de Jair Bolsonaro

Desde as manifestações de 2013, uma parcela da população brasileira se explanou num discurso de mudanças e insatisfação com as demandas impostas pelo executivo e consequentemente pelo quadro contaminado do legislativo. 

A partir deste desvio, ou seja, para um discurso de fragmentação da classe política e uma cobertura midiática excessiva nos casos de corrupção descobertas pelas etapas da Operação Lava Jato, houve uma espécie de generalização negativa dos quadros políticos tradicionais. As eleições de 2014 também serviram como uma válvula de escape com a propagação do discurso polarizador do "nós contra eles", lançado durante as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), auxiliando no esfacelamento civilizado do debate público político. 

Passado as eleições, com a reeleição de Dilma Rousseff, sucederam se os primeiros meses de seu segundo mandato e com ele sua baixa capacidade de articulação e diálogo com o Congresso Nacional. Também houve nesse intervalo as manifestações contra a corrupção e a exaltação patriótica, a publicidade dos casos de corrupção envolvendo políticos dos partidos tradicionais. Por último, o questionamento dos resultados das urnas vinda do candidato perdedor. Esse conjunto de fatores foi a oportunidade de colocar em cheque o jogo democrático.

O discurso anticorrupção, juntamente com o descrédito da população pela classe política, foi  o caminho das pedras para que Jair Bolsonaro (PSL) trabalhasse sua imagem e seu discurso num espectro antissistema. Bastando não apenas ser contra a corrupção, por ser um discurso batido por todos os políticos, o militar da reserva resolveu ir além e expressar posicionamentos extremos para cativar potenciais eleitores. 

Não há espaços vazios na política, então toda a trajetória de Bolsonaro foi centrada num leque de ideais que refletia numa parcela popular que se encontra na zona do conservadorismo, em especial nas regiões Sul e Sudeste. Por vezes, o capitão da reserva se valeu de discursos espelhados no senso comum. 

Por fim, a voz que ecoou nas eleições de 2018 foi de um conservadorismo moralista, centrado na simbologia do cristianismo onde o sentimento de um nacionalismo requentado ressurge como a “nova era” no maior país da América Latina. Todo esse conjunto de fatores fez com que Bolsonaro fosse escolhido para ser o próximo presidente do Brasil. O voto e as redes sociais foram a consequência versus ferramenta dos fenômenos reunidos no espectro sócio político. 

Gabriel Barbosa jornalista e analista político





quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Jair Bolsonaro e a nova fase da República

O presidente eleito Jair Messias Bolsonaro representa o fim do modelo político-administrativo do presidencialismo de compadrio ou coalizão. Jair Bolsonaro deverá ter o seu modelo político-administrativo de semiparlamentarismo. A chave desse modelo vai ser o Partido Social Liberal e os seus satélites partidários no Congresso: PSC – PRTB – PROS e PATRI. O bloco do Centrão e a bancada do MDB e PSDB deverão ser esvaziados no início do próximo ano legislativo (2019).
 O Partido dos Trabalhadores e os seus aliados históricos (PC do B, PSB e PSOL) deverão ser o novo núcleo da oposição parlamentar anti-bolsonarista. O maior líder das oposições deverá ser o senador eleito, baiano, o ex-ministro Jacques Wagner (PT), em substituição ao ex-presidente Lula, que vai ser jogado ao ostracismo político-eleitoral. Lula não tem condição de ser o anti- Jair Bolsonaro, pois isso só seria benéfico ao presidente eleito. O petismo paulista e o petismo mineiro, assim como o petismo gaúcho foram pulverizados pelos eleitores sulistas, somente vai sobrar o petismo nordestino (Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia), tendo como sua maior liderança  o senador Jacques Wagner, entre os lulistas nordestinos.

 O ex-ministro Ciro Gomes deverá reorganizar o novo partido de centro do espectro ideológico da política brasileiro. Ciro Gomes deverá abrir uma negociação de diálogo, com a ala tucana do ex-governador Geraldo Alckmin (SP), para adesão dos mesmos ao Partido Democrático Trabalhista (PDT). A frente partidária democrática liberal (PODE-PPS-PV) deverá ter uma aproximação estratégica no parlamento, com a bancada cirista-trabalhista, já numa espécie de aliados informais do presidente Jair Bolsonaro, pois essas agremiações partidárias não serão reféns ou satélites do Partido dos Trabalhadores. O novo bloco Centrão terá visão progressista liberal, em detrimento ao fisiologismo do antigo bloco de Centrão da Era Lula-Dilma-Temer (2003-2018).   
 O novo núcleo político ou elite governamental do Palácio do Planalto não deverá seguir o manual administrativo do ex-presidente Fernando Henrique (PSDB) e do ex-presidente Lula (PT), que foi repudiado pela opinião pública e pelos eleitores nas urnas das eleições 2018. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) não vai alimentar os sobreviventes eleitorais das elites fisiológicas da política brasileira. Jair Bolsonaro deverá investir em novas lideranças do Movimento Cívico Popular Conservador através do seu partido: Partido Social Liberal.

Luiz Cláudio Ferreira Barbosa sociólogo e consultor político


Fortaleza, 01 de novembro de 2018