quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Blog do Eliomar de Lima - Cai a última resistência em Fortaleza


 


Qualquer Centro de uma metrópole pertence a todos os moradores da cidade. Se existe um lugar onde a diversidade cultural é tolerada, onde os diferentes cultos religiosos se avizinham e se respeitam, onde as classes sociais interagem e a história do povo é contada nas praças e preservada em fachadas de prédios... esse lugar é o Centro.

Seja em Nova Iorque ou na modesta Aracaju, o Centro também antecipa os rumos da economia da cidade, assim como é largada obrigatória em períodos eleitorais. Discursos proferidos no início de campanhas políticas, ganham bairros nobres e periferias, diante da grande circulação de seus moradores no Centro.

Coração pulsante em qualquer metrópole, o Centro jamais se permitiria a ter dono, senão a sua própria gente.

Mas o Centro de Fortaleza tombou...

Há algum tempo, uma facção criminosa tem demarcado perímetros no Centro como parte de seu território de atuação. Portas de comércios têm recebido iniciais da facção criminosa e a remoção não é permitida em nenhuma liquidação. É fatura obrigatória.

Por enquanto, o livre funcionamento das lojas e a tranquila circulação dos consumidores ainda estão na fase da promoção. Mas o aviso já está pregado sobre quem agora manda no pedaço. E mais um tributo deverá recair nas costas do comerciante.

Enquanto a inteligência policial e a estratégia governamental se valem do discurso de gabinete para justificar o avanço da criminalidade e apresentar sugestões políticas para Fortaleza, a facção se inseriu no Centro, por meio dos diferentes núcleos de pessoas em situação de rua, para a demarcação do que considera seu território.

A pouca circulação da população pelo Centro, nesse período de pandemia da covid, por certo é uma aliada da criminalidade pela falta da ocupação dos espaços públicos por pessoas de bem. Mas obras que já deveriam estar em fase de conclusão, prontas para serem entregues com a retomada das atividades econômicas, crescente dia a dia, poderão retardar essa reocupação dos espaços públicos pela lentidão ou paralisação das máquinas.

Requalificada e bem protegida, a Praça José de Alencar é talvez o último reduto da autonomia governamental sobre o Centro. Mas, todos os dias, pessoas em situação de rua investem para ocupar o local. Não que necessitem do abrigo das frondosas árvores históricas. Tampouco o poder público trataria seus cidadãos como indesejados. É porque a criminalidade no Centro usa o cidadão mais vulnerável na estratégia do "insere para se inserir".

Imponente, no alto da praça, em seus quase 100 anos de territorialidade, a estátua José de Alencar, diante da situação, certamente citaria uma das mais marcantes frases do escritor cearense: "Acordei sentindo saudade de casa, mas é estranho sentir saudade de casa quando se estar em casa".

Luiz Cláudio Ferreira Barbosa é sociólogo e consultor político




Ciro Gomes e a Necessidade do Anti-Lulismo

 



O presidenciável pedetista, o ex-ministro Ciro Gomes, deve manter o seu discurso político-ideológico de ataque ao ex-presidente Lula (PT), nesse período pré-eleitoral à sucessão presidencial de 2022. Ciro Gomes já compreendeu que a consolidação do eleitorado progressista antibolsonarista é na sua maioria pró-Lula de acordo com as últimas pesquisas eleitorais. O cenário político-eleitoral brasileiro ainda tem grande expectativa do candidato presidencial que vai representar o antilulismo, em 2022.

 

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) já teve a sua primeira fase como antilulista (1999-2002), como também a sua grande fase de aliado lulopetismo (2003-2018); é agora a segunda fase antilulista (2018-2022). Ciro Gomes quando saiu do PSDB, no ano de 1997,desejava ser candidato a presidente da República, em 1998, porém, as suas principais opções partidárias eram o PDT ( Leonel Brizola) e o PSB (Miguel Arraes) , contudo, essas agremiações partidárias já estavam aliadas na terceira tentativa presidencial do ex-metalúrgico Lula, na reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). 


O presidente nacional do atual Cidadania (PPS), o ex-senador Roberto Freire, garantiu a candidatura presidencial do ex-ministro Ciro Gomes, no pleito eleitoral de 1998. Ciro Gomes fez uma campanha como uma alternativa no campo democrático popular à reeleição do presidente  Fernando Henrique Cardoso (PSDB), porém, esse espectro político-eleitoral foi ocupado pela chapa majoritária Lula (PT) e Leonel Brizola (PDT), com quase 35% dos votos válidos no primeiro turno, o candidato do Cidadania-PPS (Ciro Gomes) só teve 1/3 da votação da principal coligação oposicionista (PT-PDT-PSB e PC do B) ao presidente reeleito, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), no pleito eleitoral de 1998.


O ex-ministro Ciro Gomes já tinha a compreensão que precisava ser o antilulismo, no pleito eleitoral de 2002, para a sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que não tinha mais direito institucional de ser candidato à presidência da República. Ciro Gomes atraiu o PDT do ex-governador carioca, Leonel Brizola, e o PTB sob a liderança do deputado federal, Roberto Jefferson (RJ), para tentar barrar a primeira vitória presidencial do lulopetismo, pois era muito difícil a terceira vitória consecutiva tucana, nas eleições de 2002. A candidatura a presidente da República da coligação Cidadania (PPS), PDT e PTB ficou fora do segundo turno, pois não manteve a confiabilidade do eleitorado antilulopetista progressista. 

 

O apoio da direção nacional do Cidadania (PPS) ao primeiro mandato (2003-2006) do presidente Lula ( PT), sem dúvida criou um grande elo político-administrativo entre o cirismo-cidista e o lulopetismo, no Ceará e no Brasil. A eleição (2006) e a reeleição (2010) de Cid Gomes, para o Governo Estadual, em coligações atreladas ao Partido dos Trabalhadores, com aval do presidente Lula. O ex-ministro Ciro Gomes fazia a alternância de defensor do lulopetismo, e às vezes como crítico interno do condomínio político-administrativo do presidente Lula (2003-2010). O campo democrático popular sempre foi na sua plenitude dominado pelo ex-presidente Lula, com pouco espaço de atuação do ex-ministro Ciro Gomes (PDT). 


O campo democrático neoliberal anti-bolsonarista poderá caminhar para a dupla formada por João Doria e Henrique Meirelles, pois os dados econômicos do estado de São Paulo, sem dúvida, vão colocar o provável presidenciável tucano, como um forte representante do antipopulismo, no eleitorado da classe média tradicional brasileira. O presidente do Senado, o empresário Rodrigo Pacheco (DEM), poderá ser o presidenciável do Centrão Conservador Liberal, com a participação das seguintes agremiações partidárias: PSD, PSL + DEM e MDB. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) não tem muito espaço de movimentação nesse momento, porém, o mesmo poderia abrir uma linha de diálogo institucional, com o vice-presidente da República, o general (Reserva) Hamilton Mourão (PRTB), que é antilulista voraz; e ainda é voz moderada na direita brasileira ou bolsonarismo envergonhado. 

 

                             Luiz Cláudio Ferreira Barbosa, sociólogo e consultor político 




 

Blog do Eliomar de Lima - Estaria o ciclo dos Ferreira Gomes no Ceará na fase final?


 


A história da política cearense, em especial, tem capítulos de alternância dos ciclos de poder. Basta um simples olhar nos últimos 40 anos para perceber as mudanças de ventos com vitórias e derrotas de lideranças apontadas então como “imbatíveis”. E esse processo natural de rotação de poder é a base de uma Democracia forte e em evolução.

No Ceará, em 1986, Tasso Jereissati pôs fim ao Ciclo dos Coronéis, com a chegada do Mudancismo ao poder. Na sequência, Ciro Gomes (1990/1994), Tasso Jereissati novamente (1994-1998/1999-2002) e Lúcio Alcântara (2003-2006) mantiveram o domínio. Foram cinco gestões seguidas de uma hegemonia que começou no antigo PMDB (hoje MDB) e terminou no PSDB. Mas, esse ciclo por pouco não ficou concluído em 2002, quando Lúcio venceu um pleito por pouco mais de 3 mil votos, e nos quatro anos seguintes não fez uma boa gestão – faltou uma marca de um governo exitoso, que acelerou o declínio do grupo. O resultado apertado das urnas seria um sinal de alerta, mas os gestores de plantão preferiram não entender.

Quatro anos após, em 2006, os Gomes romperam com os tucanos, se uniram ao PT e acabaram com aquele novo “ciclo”, afastando os tucanos do poder estadual. Cid foi eleito governador. Em 2010, foi reeleito. Já em 2014, elegeu Camilo Santana, que se reelegeu em 2018. Já se passaram 14 anos e meio de hegemonia dos Ferreira Gomes, a caminho de completar 16 anos com a conclusão do atual mandato.

Mas, haveria uma pedra no meio do caminho para aqueles que ainda acreditam que esse ciclo se estenderá? Os sinais são dados e precisam ser bem analisados. A medir pelo resultado do pleito em Fortaleza, em 2020, teriam dado a senha aos Ferreira Gomes de que o projeto estaria sob ameaça? O segundo turno, em que José Sarto ganhou por pouco mais de 2% de diferença do Capitão Wagner, seria o alerta de que está a caminho a tese de “fadiga de material” sobre o domínio dos “FGs”? São reflexões que precisam ser aprofundadas.

A medir pela fotografia atual, há muitas variantes a serem consideradas. A primeira é que, no plano nacional, petismo e bolsonarismo estão polarizando e nenhum está aliado com o projeto de Cid, Ciro e companhia. Outra é que MDB, PSD, PP e, quem sabe até o PSB, poderão estar em outra composição nacional, distante dessa barca comandada pelo PDT cearense. Ou seja, nesse novo cenário não haveria vida fácil para o grupo que se profissionalizou em campanhas eleitorais estaduais e municipais no Ceará.

Concluo pelo começo. A história da política cearense, em especial, tem capítulos de alternâncias dos ciclos de poder. Estariam os nomes dos pedetistas já apontados como pré-candidatos muito aquém de uma disputa pra valer? Essa é uma boa questão. Nunca é bom esquecer que lançamento de balões de ensaios povoam as mentes dos marqueteiros de plantão.

Estaria o ciclo dos Ferreira do Gomes no seu final? Nesse xadrez da política profissional, o continuísmo pode ser um erro fatal para quem planeja manter-se com o poder hegemônico. Em tempos de modernidade tecnológica, um “Ctrl-C / Ctrl-V” na definição de candidaturas pode custar muito caro para quem menospreza a resistência do eleitorado e desconsidera o esgotamento de um modelo.

Luiz Cláudio Ferreira Barbosa é sociólogo e consultor político




Blog do Eliomar de Lima - Dr. Cabeto e o bom diagnóstico para 2022


 


No fim de 2018, os cearenses foram surpreendidos com o anúncio que o médico Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, assumiria no segundo mandato de Camilo Santana o cargo de Secretário de Saúde do Estado. Considerado uma das referências da cardiologia brasileira e com reconhecido trabalho na iniciativa privada, sua maior experiência estava registrada nas aulas de professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Ao assumir a SESA, no início de 2019, herdara uma pasta com um histórico nada animador. Basta lembrar os piscinões nos corredores dos hospitais públicos em Fortaleza, a falta de uma gestão mais técnica e a nítida disputa politica nos questionados Consórcios de Saúde. Dr. Cabeto assumiu e iniciou um processo de reconstrução. Primeiro, rompeu com as interferências indevidas dos políticos nos Consórcios, depois apesentou um novo projeto com a regionalização da saúde.

Veio a pandemia e com isso Cabeto mais que conduziu o sistema de saúde cearense. Ele liderou o pensamento da meritocracia, fortaleceu a matriz científica, conquistou importantes espaços entre os formadores de opinião, recebeu o reconhecimento de muitos setores da política e passou a ser mais conhecido de boa parte dos cearenses.

Dr. Cabeto deixa o Governo em um momento de redução nos casos de Covid e após negociar a compra de 3 milhões de novas doses de vacinas do Butantan, que devem chegar aos braços dos cearense em breve. Deixa o Governo com um legado positivo que se deve reconhecer, em especial por estarmos atravessando uma pandemia.

Com certeza fará falta pela sua simplicidade, transparência, dedicação à causa da saúde pública cearense e pela credibilidade que impôs à Secretaria de Saúde do Ceará. Perde o Governo do Ceará, perdem os cearenses. Mas, como a política é dinâmica, essa ausência pode ser momentânea. Dr. Cabeto sai bem maior do que entrou. E, assim, não custa nada guardar seu nome, porque 2022 está bem aí.

Luiz Cláudio Ferreira Barbosa é sociólogo e consultor político

DETALHE - O articulista do Blog está aniversariando nesta terça-feira (17). Nossos parabéns!








Blog do Eliomar de Lima - A pré-candidatura do PT e o incômodo de Guimarães

 



Acompanho há algumas semanas a movimentação do deputado federal José Airton Cirilo, que se coloca à disposição do PT para a disputa ao Governo do Ceará, nas eleições do próximo ano. Vi o aceno do ex-presidente Lula para a possibilidade do resgate da surpreendente campanha de 2002, quando o slogan "Lula lá e José Airton cá" levou o Estado à sua maior disputa da história, quando o candidato apoiado por todas as forças políticas do Ceará, à época, garantiu a eleição em segundo turno do tucano Lúcio Alcântara, por uma vantagem inferior a 0,05%.

Depois vi a manifestação espontânea do maior partido aliado do PT, nos governos Lula e Dilma, o MDB, à pré-candidatura José Airton, quando o ex-presidente do Congresso Nacional, Eunício Oliveira, acompanhou o aceno de Lula e divulgou nas redes sociais um adesivo de 2002.

Então ocorreu uma reunião em Brasília, entre José Airton e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

Em seguida, o pré-candidato do PT ao Palácio da Abolição teve encontro com a "petista da gema" Luizianne Lins.

Apesar de todas as evidências, me permiti ao direito de avaliar a pré-candidatura de José Airton como "balão de ensaio" de partidos que permitem o lançamento de pré-candidatos para medir áreas de aceitação e de rejeição de suas legendas. Pensava assim até esta sexta-feira...

O incômodo do deputado federal José Guimarães com a pré-candidatura José Airton Cirilo, exposto na Coluna/Blog do jornalista Eliomar de Lima, na edição de hoje do O POVO, é a prova que José Airton não se trata de um "balão de ensaio".

Estigmatizado pela sociedade brasileira como mau exemplo de político, Guimarães tem pautado sua trajetória a interesses pessoais, não partidário e alheio ao público. Não fosse a influência do irmão José Genoíno, há muito já teria explicado as diversas rasteiras dadas contra o próprio PT.

Guimarães tem tentado "a qualquer custo" o apoio do PT a uma candidatura do PDT, ao Governo do Ceará, com o partido recebendo apoio recíproco ao Senado. Seu "quinhão", claro, a manutenção das indicações na máquina estadual, além de uma reeleição tranquila à Câmara Federal. Se vacilarem, ao Senado.

O "plano infalível" se desenvolve somente na cabeça do deputado estigmatizado, distante do que pretende o líder maior do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato ao Palácio do Planalto, que deverá travar no Ceará uma disputa por palanque contra o também presidenciável Ciro Gomes (PDT), além da possibilidade de Tasso Jereissati (PSDB).

Para tentar barrar a pré-candidatura de José Airton Cirilo, a qual Guimarães classifica como "bafafá" (menos que balão de ensaio), o deputado estigmatizado alega que "discutir candidatura agora ao Abolição não faz o menor sentido. (...) O momento é de reforçarmos a luta contra o governo Bolsonaro". Sequer atenta para os já acertos do PT a cargos majoritários em importantes colégios eleitorais, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia.

O incômodo de Guimarães certamente também passa pelo tal "palanque leal", idealizado por Lula e já disseminado por José Airton e Luizianne Lins, que sempre defenderam os interesses do partido e do público.

Luiz Cláudio Ferreira Barbosa, sociólogo e consultor político