terça-feira, 18 de abril de 2023

José Sarto e a estrada de Bolsonaro

 





Por certo, o prefeito de Fortaleza, Sarto (PDT), deve saber exatamente quando dobrar a curva e deixar a estrada que seguiu Jair Bolsonaro, durante os quatro anos em que o ex-presidente esteve à frente do Palácio do Planalto. Por enquanto, as semelhanças entre os dois gestores são incríveis, desde longos anos de mandatos improdutivos como deputados à vitimização de gestões que nada diferem de suas condutas no legislativo.

O PT como principal adversário é a menor dessas coincidências, até porque é fácil atrair o partido da esquerda para a oposição, quando não se há diálogo ou políticas públicas. Sim! A centralização administrativa e ações voltadas para a elite também são semelhanças entre Sarto e Bolsonaro.

Quando Bolsonaro falava de política de emprego, o discurso não era voltado para o trabalhador, mas sim para o empregador, diante do fim da contribuição sindical e da quebra do vínculo empregatício pelo trabalho temporário. Já o prefeito Sarto destaca uma obra ou outra, mas em bairros nobres. Sarto também favorece as milionárias empresas de transporte por aplicativo, com o maior índice de aumento no país na tarifa do transporte público, além do mau atendimento do serviço prestado à população, com superlotação e falta de climatização nos ônibus. O prefeito bonzinho com os empresários e ruinzinho com o mais pobre permitiu que a climatização, suspensa por causa da pandemia da covid, retornasse somente no segundo semestre. O prazo se justificaria se a climatização fosse uma inovação, mas nunca quando as flexibilizações no mundo já apontavam uma retomada de cotidiano anterior à pandemia.

Em ambas as gestões, as políticas aos mais pobres se valeram do oportunismo. Bolsonaro bradou aos quatro cantos do país o valor de R$ 600 para o Auxílio Brasil, quando a proposta do Executivo era de R$ 200. Uma reação do Legislativo elevou o valor. Situação parecida ocorreu com a Taxa do Lixo, quando a proposta do Executivo chegou à Câmara Municipal de Fortaleza com a cobrança de 70% dos imóveis. Mas uma reação do Legislativo, inclusive de governistas, obrigou a redução da cobrança para 30% dos imóveis, em uma nova mensagem. E Sarto ainda se intitulou de “Hobin Hood”, copiando o “imbrochável” de Bolsonaro, menções partidas integralmente do imaginário dos dois gestores. O agravante no caso do prefeito Sarto é que não há garantia do bom uso da Taxa do Lixo para a cidade, além da incerteza de que a cobrança não será repassada para o mais pobre, como se imposto fosse.

Assim como Bolsonaro reclamava, Sarto também aponta entraves na gestão por forças externas. O prefeito de Fortaleza faz do governador Elmano e do presidente Lula o que o ex-presidente acusava no discurso as interferências do STF e do próprio Congresso Nacional.

O sucateamento do SUS no governo Bolsonaro é traduzido por Sarto (médico!) no fechamento do Gonzaguinha de Messejana e na precariedade dos Frotinhas e dos Cras, além do encerramento no atendimento de urgência do Gonzaguinha da Barra do Ceará e do Hospital Nossa Senhora da Conceição, sem falar na falta de medicamentos e ausência de médicos nos postos de saúde. Não creio que Sarto busque a redenção na Saúde com a entrega do novo Gonzaguinha de Messejana, em ano eleitoral, pois não há ganho político quando se devolve o que se foi tomado da população, principalmente da maneira como ocorreu, sem estudo de impacto no atendimento de um hospital reconhecidamente de referência à mulher.

O desprezo de Bolsonaro pela Cultura, diante de uma campanha nas redes sociais para a marginalização de artistas, é o retrato do Corredor Cultural de Sarto, uma afronta aos artistas de Fortaleza.

Os críticos de Bolsonaro eram comunistas e ateus, enquanto os de Sarto são taxados de “maquiavélicos”.

A estrada de Bolsonaro chegou ao fim com a derrota para Lula, embora ainda prevaleça entre bolsonaristas a fraude nas urnas e o sentimento para o golpismo. Como Sarto não pode acusar fraude somente nas urnas de Fortaleza, tampouco imaginar que a Guarda Municipal se rebelaria em sua defesa, a desculpa por enquanto recai em disputas internas no PDT, na “fogueira das vaidades” e “desfile de egos”, como recentemente reafirmou em entrevista, ao falar da sua decepção “com todos, todos”. “Camilo, Cid, Ciro, Roberto Cláudio. Eu fiquei decepcionado com todos, porque é um fracasso colossal.

Uma curva na estrada de Bolsonaro para Sarto seria o prefeito reconhecer a ineficiência da gestão e realmente começar a trabalhar uma marca para a Fortaleza, além de atentar que a estrada, poucos quilômetros adiante, vira uma ladeira... 


Luiz Cláudio Ferreira Barbosa é sociólogo e gerente-executivo da Consultoria LCFB


2 comentários:

  1. Ocelo Camelo Rebouças18 de abril de 2023 às 11:15

    As suas análises na visão do Degas aqui, são via de regra coerentes com o quadro político, porém esse foi desastroso. Defesa da funcionalidade da lei Rouanet que só beneficiou medalhões da MPB e afilhados. Agora mesmo assistimos extasiados a liberação de cinco milhões para a rica Claudia Raia. Proposta de 200 reais foi uma ação inteligente do ministro da fazenda, que felizmente não era você, brasileiro bonzinho, que certamente proporia mil e veria o congresso dobrar ou você acha que não fariam? O assunto é longamente questionável, por isso concluirei a minha modesta participação com uma citação-“quem atira com pólvora alheia não mede distância……..”. Nunca vi pessoalmente o prefeito Sarto, que você diz governar para ricos que não sei onde estão. Onde ando só vejo buracos e recentemente troquei os amortecedores. Tenho um filho médico estabelecido em Novo Hamburgo e outro formado em informática, micro empresário em Natal, ambos aniversariantes em Abril, 13 e 15 e habitualmente vamos comemorar no sul. Sugere-o fazer um giro por lá. NOVO HAMBURGO zero de buracos e lixo na rua, PORTO ALEGRE pouquíssimos buracos e raríssimos indícios de lixo. NÃO TÊM COBRANÇA DE TAXA DE LIXO. BRASIL E NORDESTE- “DIREITOS MÁXIMOS DEVERES NEM OS MÍNIMOS MINIMORUM.

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    1. Respeito muito o seu comentário. Há uma certa lógica no seu ponto de vista. O prefeito de Fortaleza, o médico José Sarto (PDT), não dialoga diretamente com a população mais pobre. O ex - presidente Jair Bolsonaro (PL) também tinha dificuldade de diálogo com os setores pobres da região nordeste. Agradeço o seu comentário. Seja sempre bem - vindo. Luiz Cláudio Ferreira Barbosa é diretor - executivo da Consultoria LCFB.

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