terça-feira, 29 de setembro de 2015

Sociólogo prevê fim da polarização PT/PSDB. Seria a vez de Ciro Gomes agora?

O meu artigo no Blog do Eliomar de Lima - Jornal OPOVO, 16 de Setembro de 2016. Titulo: Sociólogo prevê fim da polarização PT/PSDB. Seria a vez de Ciro Gomes agora?


Com o título “A Crise Política Nacional e o Fim da Polarização PSDB-PT”, eis artigo de Luiz Cláudio Ferreira Barbosa, sociólogo e consultor político. Ele analisa as perspectivas de Ciro Gomes no cenário da sucessão presidencial. O ex-ministro filia-se, nesta tarde de quarta-feira, em Brasília, ao PDT, de olho no olimpo federal. Confira:
A sociologia política nos ensina que a história política de toda sociedade é a história da sua organização produtiva mediada pelos conflitos de interesses e pelas contradições daí resultantes. A sua lógica de desenvolvimento e os condicionantes dos seus avanços ou recuos são determinados pelo nível de equilíbrio de forças dos diferentes agentes em ação. Nos períodos de crises, momento onde os conflitos sociais se aguçam, há quase sempre reacomodações ou mudanças no comando político da nação. O grau de radicalidade das mudanças será determinado, portanto, pelo grau de antagonismo dos agentes em conflitos
.
No Brasil, nos últimos 21 anos, temos vivenciado uma intensa polarização nas disputas presidenciais entre o PSDB e o PT. A hegemonia do PSDB durou 8 anos, veio na carona do sucesso do Plano Real do governo Itamar Franco e foi substituído pelo PT, quando os seus pressupostos macroeconômicos fracassaram e a economia brasileira entrou em crise. O crescimento da economia e os avanços sociais, por sua vez, garantiram as sucessivas vitórias dos candidatos petistas.

Durante essas duas décadas, algumas candidaturas alternativas ousaram quebrar essa polarização, mas as condições históricas, aliadas aos interesses da grande mídia nacional inviabilizaram o sucesso de uma terceira via.
Hoje, a conjuntura sócio-política que favoreceu a ascensão do PT mudou radicalmente. Um conjunto de fatores, como o agravamento da crise brasileira, provocada pela recessão e pelo crescimento do desemprego; a percepção dos eleitores de Dilma de que foram vítimas de um grande estelionato eleitoral; a descoberta de uma ampla rede de corrupção envolvendo figuras proeminentes do governo, do partido petista e de membros graúdos da base aliada – PMDB-PP – e, principalmente, pela certeza da exaustão do projeto lulopetista, criaram as condições objetivas e subjetivas para uma inflexão nesse anacrônico quadro de disputa maniqueísta e a ampliação do espaço para o surgimento de novas candidaturas, longe do espectro PSDB-PT.
No cenário nacional, há uma notória escassez de quadros políticos capazes de empolgar o eleitor neste momento de grave crise. O PSDB conta com os nomes carimbados do José Serra, Geraldo Alkimin e Aécio Neves, estigmatizados pelas propostas neoliberais e por representar, no imaginário político do brasileiro, a volta do falido modelo FHC.
O PT, por sua vez, conta somente com a figura carismática do Lula, porém, fortemente abalada pelos sucessivos escândalos de corrupção. O Ministério Público Federal e a Justiça Federal investigam, com grande repercussão na mídia, as graves acusações do empresário Léo Pinheiro, dono da OAS, feitas ao Lula. Também há indícios de que o Lula teria usado sua influência sobre o BNDES e no BNB para favorecer a Odebrecht, o falido empresário Eike Batista e o amigo Walter Faria, dono da Cervejaria Itaipava. As suspeitas de enriquecimento ilícito do Lulinha também contribuem para desgastar a imagem do ex-presidente. Esses fatos, que correm no universo da Lava Jato, podem evoluir e inviabilizar, definitivamente, a sua possível candidatura à Presidência da República.
Restam ainda os nomes de Ronaldo Caiado (DEM), Jair Bolsonaro (PP), Eduardo Paes (PMDB), Marina Silva e a do cearense Ciro Gomes. Ronaldo Caiado e Jair Bolsonaro, com os seus discursos conservadores e com bandeiras pouco convincentes, tendem a disputar um nicho de eleitorado não muito expressivo. Eduardo Paes do PMDB, prefeito do Rio de janeiro, não tem boa avaliação como gestor municipal e é ainda um nome desconhecido dos brasileiros. Marina, por sua vez, tem uma candidatura que classificaria como natimorta. As suas históricas indefinições ou ambiguidades de posições em relação ao governo petista e a sua ausência nos debates que discutem a crise que se intensificou desde o início do segundo governo Dilma têm esvaziado o seu espaço numa disputa sucessória.
Resta o cearense Ciro Gomes. Com um invejável curriculum político, Ciro tem longa experiência no executivo e no legislativo. Foi deputado estadual, federal, ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e ministro da Integração Nacional, no Governo Lula. Como prefeito de Fortaleza(1989-90) e como governador do Ceará (1991-94), Ciro foi otimamente avaliado pelo eleitor.
Figura carismática, político determinado, conhecido pela agudeza da sua inteligência e dono de um discurso “rápido e redondo”, Ciro Gomes é conhecido ainda por ser um político polêmico e por não fugir ao debate. Duas vezes candidato à Presidência da República (1998 \ 2002) e dono de um grande recall político, Ciro Gomes acaba de entrar no PDT. Partido de tamanho médio, em crescimento, com grande tradição de lutas e com uma enorme capilaridade nacional, o PDT tem potencial para construir um grande arco de aliança e viabilizar uma candidatura competitiva.
Neste momento de crise, de implosão das condições que permitiram a polarização política nos últimos 21 anos, acredito que Ciro Gomes tem tudo para ser não mais a terceira via, mas a alternativa contra o fim da polarização PT – PSDB.
*Luiz Cláudio Ferreira Barbosa, Sociólogo e consultor político.

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