quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Blog do Eliomar de Lima - Estaria o ciclo dos Ferreira Gomes no Ceará na fase final?


 


A história da política cearense, em especial, tem capítulos de alternância dos ciclos de poder. Basta um simples olhar nos últimos 40 anos para perceber as mudanças de ventos com vitórias e derrotas de lideranças apontadas então como “imbatíveis”. E esse processo natural de rotação de poder é a base de uma Democracia forte e em evolução.

No Ceará, em 1986, Tasso Jereissati pôs fim ao Ciclo dos Coronéis, com a chegada do Mudancismo ao poder. Na sequência, Ciro Gomes (1990/1994), Tasso Jereissati novamente (1994-1998/1999-2002) e Lúcio Alcântara (2003-2006) mantiveram o domínio. Foram cinco gestões seguidas de uma hegemonia que começou no antigo PMDB (hoje MDB) e terminou no PSDB. Mas, esse ciclo por pouco não ficou concluído em 2002, quando Lúcio venceu um pleito por pouco mais de 3 mil votos, e nos quatro anos seguintes não fez uma boa gestão – faltou uma marca de um governo exitoso, que acelerou o declínio do grupo. O resultado apertado das urnas seria um sinal de alerta, mas os gestores de plantão preferiram não entender.

Quatro anos após, em 2006, os Gomes romperam com os tucanos, se uniram ao PT e acabaram com aquele novo “ciclo”, afastando os tucanos do poder estadual. Cid foi eleito governador. Em 2010, foi reeleito. Já em 2014, elegeu Camilo Santana, que se reelegeu em 2018. Já se passaram 14 anos e meio de hegemonia dos Ferreira Gomes, a caminho de completar 16 anos com a conclusão do atual mandato.

Mas, haveria uma pedra no meio do caminho para aqueles que ainda acreditam que esse ciclo se estenderá? Os sinais são dados e precisam ser bem analisados. A medir pelo resultado do pleito em Fortaleza, em 2020, teriam dado a senha aos Ferreira Gomes de que o projeto estaria sob ameaça? O segundo turno, em que José Sarto ganhou por pouco mais de 2% de diferença do Capitão Wagner, seria o alerta de que está a caminho a tese de “fadiga de material” sobre o domínio dos “FGs”? São reflexões que precisam ser aprofundadas.

A medir pela fotografia atual, há muitas variantes a serem consideradas. A primeira é que, no plano nacional, petismo e bolsonarismo estão polarizando e nenhum está aliado com o projeto de Cid, Ciro e companhia. Outra é que MDB, PSD, PP e, quem sabe até o PSB, poderão estar em outra composição nacional, distante dessa barca comandada pelo PDT cearense. Ou seja, nesse novo cenário não haveria vida fácil para o grupo que se profissionalizou em campanhas eleitorais estaduais e municipais no Ceará.

Concluo pelo começo. A história da política cearense, em especial, tem capítulos de alternâncias dos ciclos de poder. Estariam os nomes dos pedetistas já apontados como pré-candidatos muito aquém de uma disputa pra valer? Essa é uma boa questão. Nunca é bom esquecer que lançamento de balões de ensaios povoam as mentes dos marqueteiros de plantão.

Estaria o ciclo dos Ferreira do Gomes no seu final? Nesse xadrez da política profissional, o continuísmo pode ser um erro fatal para quem planeja manter-se com o poder hegemônico. Em tempos de modernidade tecnológica, um “Ctrl-C / Ctrl-V” na definição de candidaturas pode custar muito caro para quem menospreza a resistência do eleitorado e desconsidera o esgotamento de um modelo.

Luiz Cláudio Ferreira Barbosa é sociólogo e consultor político




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