segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

MEMÓRIA E HISTÓRIA: O estado do Ceará no “Campeão dos Campeões de BMX” em Minas Gerais (1986)

 



O jornal O Povo (5 de julho de 1986) – Caderno de Esportes - anunciava: “Cearenses irão a Minas”. Tratou-se de um momento marcante para o BMX do estado do Ceará. Uma equipe formada por quatro pilotos, no qual me incluo, participava de um torneio nacional: a Copa “Campeão dos Campeões” em Belo Horizonte, Minas Gerais, na primeira quinzena de julho de 1986. Completavam o time: George “Spirro”, categoria adulto “B” (16 anos), Alcântara “Cocântara” Nogueira, categoria adulto “A” (15 anos) e Juvêncio Parente, categoria adulto “D” (18 anos). Percorremos 2.665 km em 36h, em ônibus semi leito da empresa São Geraldo, de Fortaleza a Belo Horizonte até chegarmos ao nosso objetivo.

A competição se deu no Complexo Esportivo do Mineirinho, no bairro da Pampulha, na capital mineira, e contou com a presença de delegações do Nordeste, Centro Oeste, Sul e Sudeste; pilotos que só conhecíamos através de publicações especializadas como a “Bicisport” e “Quatro Rodas – Edição especial sobre Bicicross” marcaram presença, entre eles: os paulistas Ronaldo Pispico e Osvaldão, da categoria adulto “D” (acima de 18 anos, considerada na época, a “Fórmula 1” do esporte) e o saudoso Marcelo “Formiga” da categoria adulto “C” (17 anos). De Minas Gerais nomes como Maurício Lisboa e Murilo Coutinho, adulto “C” e “D” respectivamente, integravam a emergente equipe “Búffalo”, marca mineira que produzia bikes especiais de BMX para racing e freeStyle também destaques na revista “Bicisport”. Outro nome mineiro de destaque mas fora das pistas de competição, mas “fera” nos verticais e rampas era o pequenino  Angelo Sormani.



De Brasília, Charles Povoa e Antonio Carlos, o “AC” também das categorias adulto “C” e “D”. Uma equipe oriunda do interior de São Paulo, precisamente da cidade de Salto, que contava com patrocínio da prefeitura local, nos chamou a atenção, por se tratar algo inimaginável na época para a nossa realidade do BMX cearense. Foi de Salto que saiu um dos maiores destaques brasileiros do esporte, Domingos Lammoglia, que atualmente residente em Orlando, EUA. Lammoglia é um dos treinadores mais requisitados daquele país.

Também foi a primeira vez que vi de perto diversas marcas importadas, como as americanas: GTRedline e Hutch e a japonesa da Kuwahara. Além disso, tive contato com as primeiras bicicletas da marca JNA, originada a partir das letras iniciais de seus criadores Júnior, Nelson e Adrian. Durante os intervalos da competição, Nelson, o “Nelsão”, realizava manobras no modelo freeStyle no pátio do alojamento do Mineirinho. Uma Kombi oriunda de São Paulo comercializava peças importadas. Era o veículo da loja da Ergobrás, que comercializava peças e bikes importadas, oriundas do Chile, segundo o proprietário. Foi lá que adquiri o meu primeiro par de pneus de competição: o Comp-4, da marca Levorin. 

 


Após a competição, a nossa delegação ficou mais uma semana em Belo Horizonte. Aproveitamos os dias de folga e fomos conhecer a cidade. Caminhamos às margens da lagoa da Pampulha, pedalamos até o Centro da cidade, fomos a rodoviária antecipar o nosso retorno mas só havia ônibus uma vez por semana para Fortaleza. O percurso era de muitas subidas e descidas. Lembro da minha relação 46x16 e pedivela 170 que pesava bastante nas subidas.

Também conhecemos um pouco da noite da cidade. Na avenida Antônio Abrahão Caram, onde se situam o complexo esportivo do Mineirinho e o Estádio do Mineirão, havia uma série de bares e restaurantes. Era um local de “pegas” de carros e motos, que eram dispersados constantemente pela polícia mineira.



Em outro momento, encontramos o cantor e compositor Luiz Gonzaga Jr, o Gonzaguinha numa lanchonete que ficava vizinha a Casa Martins, loja especializada em bicicletas e que patrocinava a competição. Gonzaguinha residia no bairro da Pampulha e tinha um dos filhos que praticava BMX, não sei qual era deles.

Mesmo sem ter participado das finais do torneio, a viagem foi de grande valia, serviu para conhecer de perto uma realidade diferente da nossa, onde prevalecia profissionalismo das equipes e apoio do poder público e privado ao esporte. Para um menino de 16 anos incompletos foi uma descoberta em tanto, que ficaria marcada para sempre na minha vida como ciclista e como pesquisador.  



Amaudson Ximenes Veras Mendonça é sociólogo, pesquisador e praticante de BMX.






3 comentários:

  1. Importante resgatar a história social de um esporte como o BMX que tornou-se uma modalidade olímpica desde 2008. Parabéns pela pluralidade do blog.

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  2. Uauuuu! Que massa, esse tipo de interação é sempre enriquecedor.

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  3. Uauuuu! Que massa, esse tipo de interação é sempre enriquecedor.

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