segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A ausência de Luiz Inácio Lula da Silva como a grande referência do PT em debates públicos — forçado ao resguardo pelo tratamento contra um câncer de laringe — levou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a intensificar sua produção de análises políticas. O aumento da evidência de Dirceu ocorreu tanto no blog pessoal, que mantém desde maio de 2007, quanto em eventos públicos nos quais é convidado como palestrante.

Nos últimos 15 dias, Dirceu criticou as declarações dadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre as ONGs que desviam recursos públicos, atacou o PSB, pedindo ao PT “que tome cuidado com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos” e afirmou, em um encontro do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que “PSDB e DEM estão em vias de extinção”.

No encontro organizado pelo PT para discutir a regulamentação da mídia, o ex-chefe da Casa Civil dissociou a proposta à censura da mídia. “O PT sempre defendeu a regulação da mídia como sempre defendeu a liberdade de imprensa”, disse Dirceu, durante o seminário promovido na capital paulista pela direção nacional do Partido dos Trabalhadores. “Estamos propondo o que há no mundo inteiro, uma regulamentação dos meios de comunicação”, completou.

Sem a presença constante de Lula como interlocutor político do partido, o PT precisa se reinventar. A legenda, acostumada a amparar-se nas opiniões do ex-presidente, busca novo porta-voz. Petistas consultados apontam um fortalecimento de um colegiado interno. Mas Dirceu antecipa-se e exerce, até o momento, plenamente tal papel.

Só que o estilo adotado pelo cardeal petista é uma estratégia individual que tem incomodado a cúpula partidária. As palavras de Dirceu são vistas com profundas desconfianças. Principalmente no momento em que o partido busca fortalecer alianças para as eleições municipais, e a presidente Dilma Rousseff tenta reconstruir minimamente as pontes de diálogo com a oposição — aproximando-se especialmente do ex-presidente Fernando Henrique. Os petistas sabem que, pelo grau de prestígio do ex-ministro na legenda e pelo fascínio que ele exerce na militância, qualquer discurso de Dirceu pode tornar-se incendiário.

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