A pandemia da COVID 19 mudou a vida das pessoas e a dinâmica das sociedades em
escala mundial na primeira metade de 2020. Quarentena, distanciamento social, paralização
das atividades econômicas e sociais, novos hábitos higiênicos foram necessários. De um dia
para o outro, fomos jogados num novo cotidiano, cheio de desafios e imersos num novo
contexto de crise, que além de sanitária, acabou se revelando uma crise de paradigmas
culturais, seja no campo da economia, do trabalho, da educação, da política, impondo inclusive
alterações na dinâmica das próprias relações sociais.
A necessidade extrema de isolamento social acelerou a redefinição da sociabilidade
humana, agora cada vez mais dependente das tecnologias digitais de comunicação. Esse fato
está exigindo das pessoas e instituições da sociedade uma capacidade brutal de reinvenção
dos padrões relacionais, em um curto espaço de tempo. Também provocou uma alteração
significativa nas relações e processos políticos, exigindo do Estado um posicionamento e uma
atitude decisiva no combate à pandemia, com medidas urgentes e eficazes no campo sanitário,
na perspectiva de evitar ao máximo a perda de vidas, mas também com inciativas necessárias
no campo econômico para garantir a própria sobrevivência das pessoas, em tempos de queda
na produção econômica e crescimento do desemprego em escala mundial. Toda essa
realidade também leva a uma retomada do debate sobre o tamanho e o papel do Estado na
sociedade, considerando que são os investimentos governamentais que estão sendo
estratégicos na superação desses desafios trazidos pelo contexto da pandemia do novo Corona
vírus.
Mas o foco deste artigo é a educação, principalmente considerando o contexto
eleitoral de 2020. O momento crítico atual apontou para a necessidade de redefinição dos
paradigmas pedagógicos dos processos de ensino-aprendizagem, até então
fundamentalmente baseados em atividades pedagógicas presenciais que envolvem contato
físico direto entre as pessoas, o que com a pandemia passou a ser radicalmente restrito. As
atividades escolares passaram a ser oferecidas de maneira remota ou através de plataformas
virtuais de educação à distância, desafiando tanto os alunos como os professores, e os
próprios serviços de gestão da educação. As famílias dos alunos tiveram que se reinventar,
tanto do ponto de vista relacional, com uma presença maior de pais e filhos em casa, quanto
do ponto de vista de sua infraestrutura, sendo obrigadas a fazer investimentos não previstos
em tecnologias da informação, para garantir às crianças e jovens o acesso às atividades
remotas e às plataformas de educação à distância, oferecidas pelas instituições educacionais.
Já os professores, acostumados a uma dinâmica externa de trabalho, também tiveram
que se reinventar diante da imposição do trabalho em sistema de home-office, o que lhes
exigiu maior investimento em pesquisa e em tecnologia para produzir as aulas remotas e
operar as plataformas virtuais, sem falar que o regime de trabalho em casa também lhes
impôs uma redefinição da convivência doméstica, aonde, agora, a casa de cada um passou a
ser, ao mesmo tempo, lar e local de trabalho.
Outro desafio que a crise pandêmica trouxe para o campo da educação, aqui no Brasil,
é o fato de que, devido a grande e estrutural desigualdade socioeconômica que caracteriza a
macro sociedade brasileira, uma imensa parcela da população, principalmente nos estratos
sociais mais pobres, e mais particularmente ainda nas regiões Norte e Nordeste do país, não
têm acesso aos benefícios oriundos dos avanços das tecnologias de comunicação: acesso a
internet, às ferramentas digitais de educação e capacitação para o uso adequado dessas
ferramentas. Essa realidade, portanto, tem levado a grandes perdas pedagógicas nos
processos educacionais, tanto na educação básica como na educação superior.
Ora, 2020 é ano de eleições municipais aqui no Brasil, e esse contexto de crise
pandêmica requer do eventuais candidatos aos cargos do poder executivo municipal,
sobretudo, um olhar diferenciado sobre essa nova realidade, esse “novo normal” que nos foi
imposto. As expectativas apontam não apenas para um novo modelo de campanha eleitoral,
agora ainda mais focada nas redes sociais e no uso de ferramentas digitais de comunicação,
mas principalmente sobre o que vem por aí em termos de propostas para as plataformas
educacionais dos candidatos a prefeito.
Neste sentido, apontamos aqui, de maneira mais geral, algumas preocupações que
possam atender de maneira inovadora às novas demandas para a educação na sociedade pós
pandêmica.
• Redefinição das estruturas e projetos das escolas municipais, considerando os novos
paradigmas sanitários e a perspectiva institucionalizada de atividades presenciais
articuladas à oferta de atividades permanentes em plataformas de educação à
distância;
• Criação de programas de incentivo à formação continuada de professores, para a
realização de cursos de pós-graduação em nível de especialização, mestrado e
doutorado, presenciais, semi presenciais ou totalmente à distância, com foco também
na formação para a operacionalização das novas tecnologias digitais de educação;
• Promoção de programas permanentes de capacitação de gestores escolares, com
incentivo à realização de cursos de pós-graduação em nível de especialização,
mestrado e doutorado, na área de gestão educacional, com foco também na formação
para a operacionalização das novas tecnologias digitais de educação a distância;
• Criação de projetos ou programas de avaliação e monitoramento das estruturas físicas
e pedagógicas das escolas, com a participação de professores, alunos e seus familiares
para a construção de um planejamento escolar que atenda de maneira satisfatória e
eficiente as necessidades desse novo contexto pós pandemia.
Enfim, é necessário que os candidatos a prefeito apresentem plataformas eleitorais,
principalmente no campo da educação, que demonstrem às suas populações o seu real
compromisso com o atendimento eficiente das novas necessidades produzidas pelo contexto
pós pandemia. Estas plataformas também precisam demonstrar a capacidade criativa e
inovadora dos futuros gestores municipais no atendimento às novas demandas da sociedade
em seus municípios, criando estruturas e políticas públicas duradouras e flexíveis.
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